Os Três Tipos de Saber
Na jornada da auto-indagação e da experiência não-dual, deparamo-nos com três tipos distintos de saber. À primeira vista, podem parecer estágios ou perspectivas, mas a um nível mais profundo, são expressões da própria natureza da realidade—daquilo a que podemos chamar o ser amoroso. Este ser não é passivo nem abstrato; irradia através de três qualidades inseparáveis: amor, compreensão (sabedoria) e beleza. Cada tipo de saber surge como expressão de uma destas qualidades essenciais.
Não Saber — A Qualidade da Beleza
O reino da mente cognitiva, muitas vezes referido como “não saber”, não é uma falha ou ausência de inteligência. É o reconhecimento, por parte da mente, dos seus próprios limites—da sua incapacidade de apreender o infinito através de conceitos ou lógica. Esse reconhecimento dá lugar à humildade, à curiosidade e à abertura—uma espécie de reverência sagrada perante o mistério.
Este não saber é a rendição da mente à beleza do que é. A beleza leva-nos para além do intelecto, convidando-nos ao espanto. Não pode ser definida, apenas sentida. Neste estado, a mente silencia e maravilha-se, e ao fazê-lo, inclina-se sem saber perante a inteligência maior de onde tudo emerge.
O único erro acontece quando o pensamento, de forma subtil, reclama autoridade, sugerindo que a própria mente é a fonte das formas mais profundas de saber. Esta identificação errónea cria a ilusão momentânea de que o processo dualista da mente—o seu dividir da realidade em sujeito e objeto—é a verdade última. Mas isto não é mais do que mais uma aparência dentro da vastidão que ela própria não consegue compreender.
Saber — A Qualidade da Compreensão (Sabedoria)
Para além da mente pensante, reside o saber—não como informação ou crença, mas como consciência pura. É o reconhecimento directo e silencioso do ser. Uma clareza sem conteúdo, uma luz suave que permite que todas as experiências surjam e passem.
Esta forma de saber reflecte a qualidade da compreensão, ou sabedoria. Não é conhecimento acumulado, mas a luz pela qual todas as coisas são vistas tal como são. Não julga nem separa. Apenas vê. É o olhar calmo e límpido da consciência, que sabe sem esforço, que acolhe sem se agarrar.
Não Saber — A Qualidade do Amor
No nível mais profundo, para além da mente e até da própria consciência como objeto, encontra-se aquilo a que podemos chamar não saber. Aqui, até a dualidade entre conhecedor e conhecido colapsa. Não há sujeito a observar objeto. Há apenas ser—puro, indivisível, tudo-abarcante.
Isto não é ausência. É o amor em si—a força unificadora que abraça todas as aparências, todas as distinções e todas as formas. É íntimo, imediato e completo. No não saber, não estamos separados da vida; somos a vida, vivida directamente. Esta é a expressão mais plena do ser amoroso—livre, incondicionado e absolutamente presente.
Os Três como Um Só
Aquilo que à partida parecem ser três formas de saber são, na verdade, uma só realidade. O não saber da mente revela a beleza do mistério. O saber da consciência revela a sabedoria da clareza. E o não saber do ser revela o amor que está no coração de tudo—reconhecendo que tanto o não saber como o saber são aparências temporárias e ilusórias dentro deste amor. Um amor que está para além do saber, para além do conceito, para além da forma. Não precisa de saber—simplesmente é.
Com amor,
Freyja